quinta-feira, 15 de julho de 2010

Livro do mês

No livro Relato de um certo oriente, Milton Hatoum apresenta um romance narrado por uma anônima.
Ao retornar para cidade de sua infância, chega na véspera da morte de Emilie, a mulher que a criou. Tenta nos contar a história de sua família. Para isso, se utiliza do depoimento de Hakim, filho favorito de Emilie; Gustav Dorner, fotografo alemão e amigo da família; Hindié Conceição, amiga íntima de Emilie; além de uma transcrição do marido de Emilie, anotada por Dorner.
O livro, por apresentar multiplos narradores, cada um com seu ponto de vista, busca reconstruir os fatos mais relevantes da família de imigrantes raticada em Manaus - a gravidez precoce de samara Délia (filha de Emilie), o suicidio de Emir (irmão de Emilie), a trágica morte de Soraya Ângela (filha de Samara Délia). Ao utilizar essa forma polifônica, permite mostrar o mesmo fato diversas vezes, nos transmitindo uma maior impressão de verossimilhança.
Através de detalhes, pequenos retalhos de narrativa contados por um, somam-se a fragmentos deixados por outro, formando uma grande colcha que compõe o romance de Hatoum.
Antes de conhecer a história em questão, apenas sabendo que os fatos acontecem em Manaus. Esperamos encontrar índios, caboclos, seringueiros e outros personagens típicos da floresta, todavia a Manaus em questão é contada por imigrantes de libaneses e um alemão.
O ato de contar, para mim, é o principal ponto do livro, além de remontar a tradição oriental de relatar uma história com seus múltiplos narradores evidência a aparente diferença de costumes - orientais e ocidentais - porém mais próximos do que se imaginam.
"Ao contar histórias, sua vida parava para respirar; e aquela voz trazia para dentro do sobrado, para dentro de mim [Hakim] e de Emilie, visões de um mundo misterioso: não exatamente o da floresta, mas o do imaginário de uma mulher [...]"  (p. 91)
"Às vezes, a leitura de um livro desvela uma pessoa. Mas o curioso é que ele sempre deixava uma ponta de incerteza ou descrédito no que contava, sem nunca perder a entonação e o fervor dos que contam com convicção." (p. 79)
Esse contar tão essencial para fugir do esforço físico ou relatar os fatos trágicos ocorridos na família. Aparece na troca de correspondência entre Emilie e Hakim. O curioso é que não há cartas, mas apenas fotos.
" Enviou-me fotografias durante quase vinte e cinco anos, e através das fotos eu tentava decifrar os enigmas e as apreensões de sua vida, e a metamorfose do seu corpo." (p. 104)
Em sintese, Hatoum mostra as multiplas formas do contar, formando um mosaico que mesmo sendo uma enorme mentira nos transmite uma sensação de verdade.               

Um comentário:

Anônimo disse...

Estas evoluindo nos textos desta coluna! bjoks da bianca