terça-feira, 23 de março de 2010

Livro do mês especial África I

Bem, como já é de conhecimento da maioria das pessoas, a Copa do Mundo de Futebol acontecerá na África do Sul, ou seja, a primeira copa do mundo em um país africano. Em uma espécie de homenagem, este blog na coluna Livro do Mês, até o começo do campeonato, abordará apenas temas com a temática africana.
O livro deste mês é: O vendedor de passados, de José Eduardo Agualusa. Nesta história, um albino morador de Luanda, capital de Angola, elabora árvores genealógicas em troca de pagamento. Uma atividade um tanto quanto estranha exercida por um esquisito personagem principal - o vendedor de passados falsos, chamado Félix Ventura e uma lagartixa que, na verdade comanda toda a narrativa.
Esta, uma osga, espécie de lagartixa, vai contar como um negro albino, Félix Ventura, fabrica histórias de vida para seus clientes, ou seja, cria uma genealogia de luxo para quem o contrata.
São prósperos empresários, políticos e generais da emergente burguesia angolana que têm um presente e um futuro próspero, mas falta-lhes passado que não seja comprometedor. E arquitetar esse passado é uma empreitada no qual, o personagem principal Felix se encarrega.
Dois seres, um albino e uma osga (lagartixa), vivem à sombra e compartilham vivências, sonhos e criações. A osga busca na sua pretérita vida humana, vestígios de outra reencarnação, a fim de compreender suas emoções e reconhecer os vestígios literários e a sua aguçada percepção. A Osga tem um nome. É chamada de Eulálio por Félix. É ela quem vai narrando a história.
O albino, Félix Ventura, busca a realização de um presente para si alicerçado nos alfarrábios que lhe serviram de berço.
A relação da osga (Eulálio) com a sua casa é visceral. A osga percebe sua respiração, penetra-a em busca do útero "O corredor é um túnel fundo, úmido e escuro, que permite o acesso ao quarto de dormir..." A casa é o seu universo possível e seguro, distante dos campos minados de Angola, onde são revelados os segredos e fantasias que criam o presente para os que buscam novos passados. Também é o ambiente protegido para o resgate da vida de Eulálio, um ser comum que viveu quase um século na pele de homem sem se sentir inteiramente humano e que agora se lamenta desses quinze anos com a alma presa ao corpo de lagartixa.
Felix está muito bem nessa empreitada, leva uma vida razoavelmente confortável até que uma noite essa rotina é rompida com a chegada de um estrangeiro, fotógrafo de guerra, que quer um passado completamente novo. De preferência que seja uma identidade angolana. Com o nome recente, José Buchmann, e uma fajuta e fabulosa árvore genealógica, passa a buscar os personagens a fim de confirmar sua existência fictícia. José Buchmann procura o seu passado e, à medida que vai sendo criado por Félix Ventura, o encontro com algumas situações surpreendem com a possibilidade da coincidência com o absurdo.
A busca de sua suposta mãe, a aquarelista norte-americana Eva Müllher, a narrativa do corredor cheio de espelhos e de sua povoada solidão no apartamento em Nova Iorque, a aquarela encontrada e o anúncio de sua morte na Cidade do Cabo, tudo vai colorindo e recheando essa nova identidade.
Entre uma venda de passado e suas implicações, são apresentados os problemas de uma osga (fugir de lacraus, e refrescar-se do calor) e seus sonhos. E temos ainda que contornar o problema de um narrador animal que age como um ser humano sem uma nítida compreensão animal do mundo.
Outra passagem interessante e que nos chama a atenção: os inúmeros seres que precisam de uma trajetória para legitimar as máscaras que vestem demonstram como os personagens históricos são imortalizados com passados maquiados, enfeitados de fatos falsos, numa ficção memorialista.
Contudo, o aparecimento do mendigo Edmundo Barata dos Reis, comunista assumido, ex-agente e ex-gente nas palavras do próprio, cria novos rumos para a narrativa. Os personagens e seus duplos convergirão para um desfecho inusitado, consagrando a narrativa vertiginosa e poética de Agualusa.

O julgamento do casal Nardoni

O primeiro dia de julgamento no Fórum de Santana, na zona norte da capital paulista, onde ocorre o julgamento do casal Nardoni, acusado (e condenado pela mídia) de matar a menina Isabella, foi marcada pela presença de manisfestações pedindo "justiça", em defesa de causas como a redução da maioridade penal e prisão perpétua, estudantes de Direito em busca de uma vaga no plenário e muitas pessoas querendo aparecer (afinal tinham muitos canais de televisão). Um verdadeiro circo foi armado pela dita "opinião pública" desde a morte de Isabella, algumas almas mal intencionadas irão dizer que estou achando o casal Nardoni inocente.
Particularmente não tenho uma opinião formada. Todavia achava que todos fossem inocentes até provarem o contrário, algo que jamais aconteceu neste caso. Como na maioria dos crimes que possuem uma gigantesca repercusão da mídia, e os acusados declaram inocência. O trabalho dos jurados fica comprometido, pois todos já possuem um pré-julgamento muito dificil de ser mudado durante o julgamento.
Dessa forma acredito que seja quase impossivel a absolvição dos acusados.   

terça-feira, 16 de março de 2010

Música

Filme do mês

Março, entre outras coisas é o mês do Dia Internacional da Mulher. Simbolizado pela luta das bravas e combatentes mulheres de uma fabrica em Nova Iorque, que morreram queimadas. Infelizmente a maioria das pessoas está esquecendo isto, por isso decidi escolher um filme interessante, e impactante que aborda a prostituição infantil no Brasil. Anjos do Sol, narra a história de Maria (Fernanda Carvalho) uma jovem de 12 anos, que mora no interior do nordeste brasileiro. No verão de 2002 ela é vendida por sua família a um recrutador de prostitutas. Após ser comprada em um leilão de meninas virgens, Maria é enviada a um prostíbulo localizado perto de um garimpo, na floresta amazônica. Após meses sofrendo abusos, ela consegue fugir e passa a cruzar o Brasil através de viagens de caminhão. Mas ao chegar no Rio de Janeiro a prostituição volta a cruzar seu caminho. Dirigido por Rudi Langemann que afirma: "É um filme duro. Minha proposta era colocar uma discussão, não uma redenção. É um problema social para resolver em 50, 100 anos, porque é uma questão cultural. Mas acho que 'Anjos do Sol' pode se tornar um instrumento de debate".