quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O Cinema Novo


Tudo começa em 1952 com o I Congresso Paulista de Cinema Brasileiro e o I Congresso Nacional do Cinema Brasileiro. Por meio desses congressos, foram discutidas novas idéias para a produção de filmes nacionais. Uma nova temática de obras já começa a ser abordada e concluída mais adiante, por uma nova fase do cinema que se concretiza na década de 50.
Essa nova fase pôde ser bem refletida a partir do filme Rio, 40 Graus (1955), de Nelson Pereira dos Santos. As propostas do neo-realismo italiano que Alex Viany vinha divulgando, foram a inspiração do autor do filme.
Um trecho do livro A Fascinante Aventura do Cinema Brasileiro (1981), de Carlos Roberto de Souza, expressa bem quais eram as pretensões do cinema nessa época: "Rio, 40 Graus, era um filme popular, mostrava o povo ao povo, suas idéias eram claras e sua linguagem simples dava uma visão do Distrito Federal. Sentia-se pela primeira vez no cinema brasileiro o desprezo pela retórica. O filme foi realizado com um orçamento mínimo e ambientado em cenários naturais: o Maracanã, o Corcovado, as favelas, as praças da cidade, povoada de malandros, soldadinhos, favelados, pivetes e deputados". Surgia o Cinema Novo.
Empolgados com essa onda neo-realista e frustrados com a falência dos grandes estúdios paulistas, cineastas do Rio de Janeiro e da Bahia, resolveram elaborar novos ideais ao cinema brasileiro. Tais ideais, agora, seriam totalmente contrários aos caríssimos filmes produzidos pela Vera Cruz e adversos às alienações culturais que as chanchadas refletiam.
O que esses jovens queriam era a produção de um cinema barato, feito com "uma câmera na mão e uma idéia na cabeça". Os filmes seriam voltados à realidade brasileira e com uma linguagem adequada à situação social da época. Os temas mais abordados estariam fortemente ligados ao subdesenvolvimento do país.
Outra característica dos filmes durante o cinema novo é que eles tinham imagens com poucos movimentos, cenários simplórios e falas mais longas do que o habitual. Muitos ainda eram rodados em preto e branco.
O Cinema Novo em sua primeira fase
O núcleo mais popular do cinema novo na época era composto por: Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Joaquim Pedro de Andrade, Carlos Diegues, Paulo Cesar Saraceni, Leon Hirszman, David Neves, Ruy Guerra e Luiz Carlos Barreto.
Ao redor dessas personalidades, o cinema novo foi composto por três importantes fases. A primeira delas vai de 1960 a 1964. Nesse período os filmes voltados ao cotidiano e à mitologia do nordeste brasileiro, com os trabalhadores rurais e as misérias da região. Era abordada também a marginalização econômica, a fome, a violência, a opressão e à alienação religiosa. Algumas das produções que melhor expressa essa fase são os filmes Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos; Os Fuzis (1963), de Ruy Guerra; Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha.
Vidas Secas exibe o melhor desempenho da direção de Nelson Pereira do Santos. A obra, uma adaptação do livro de Graciliano Ramos, representou o Brasil no Festival de Cannes de 1964, onde dominou a temática do campo.
Já o filme de Glauber Rocha, Deus e Diabo na Terra do Sol, de acordo com o livro de Carlos Roberto de Souza, A Fascinante Aventura do Cinema Brasileiro, era a "libertação completa da linguagem cinematográfica de seus entraves coloniais [...]. Glauber Rocha dava expansão a que o próprio instinto vital da cultura brasileira explodisse com liberdade na tela, entrando em choque mortal com o cinema estrangeiro."
Também exibido em Cannes, embora sem ter alguma premiação, o filme de Glauber Rocha foi considerado o auge do Cinema Novo e conseguiu, além de um bom público, vários elogios, inclusive da crítica francesa.
Cinema Novo acaba, mas deixa grandes filmes na história
A Segunda fase do cinema brasileiro agora tem um novo propósito. Os cineastas analisavam agora, os equívocos da política desenvolvimentista e principalmente da ditadura militar. Os filmes também faziam reflexão sobre os novos rumos da história nacional. Nessa fase que vai de 1964 a 1968, obras características são: O Desafio (1965), de Paulo Cezar Saraceni, O Bravo Guerreiro (1968), de Gustavo Dahl, Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha.
Terra em Transe conquistou dois prêmios no Festival de Cannes. De acordo com depoimentos de Glauber Rocha, que aparecem na coleção 100 Anos de República, o cineasta afirma que o cinema que ele faz é contra "a ditadura estética e comercial do cinema americano, contra a mentalidade conservadora dos críticos e a favor do público, não paternalizando, ou seja, pensando que uma mensagem mastigada vai mudar a consciência e acabar com a alienação".
A Terceira e última fase do Cinema Novo, que vai de 1968 a 1972 é, agora, influenciada pelo Tropicalismo. O movimento levava suas atitudes às ultimas conseqüências e extravasou por meio do exotismo brasileiro, com palmeiras, periquitos, colibris, samambaias, índios, araras, bananas. Um marco dessa fase é o filme Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade. A obra se utilizava de uma das grandes figuras da chanchada, Grande Otelo, que estrelava como um herói sem nenhum caráter. Como descreve o livro A Fascinante Aventura do Cinema Brasileiro, de Carlos Roberto de Souza, Otelo vive "o brasileiro preguiçoso e fanfarrão, sensual e depravado, que luta para ganhar dinheiro sem trabalhar".
Mas logo a repressão política deu fim ao movimento e até alguns dos seus cineastas tiveram de se exilar. Grande parte das produções foram fracassos comerciais. Além disso, "se os diretores do Cinema Novo procuraram se adaptar às novas circunstâncias mantendo-se fiéis, um grande público, a parcela mais jovem do grupo de realizadores que se formava a sua volta recusou-se  a isso", como completa o livro de Carlos Roberto de Souza. Surge então um novo movimento no país, o Cinema Marginal.