sábado, 24 de abril de 2010

Livro do mês especial Àfrica II

Continuando o especial em homenagem ao continente africano, este mês sugiro o livro de contos O cão e os calundas, de Pepetela. Novela escrita entre os anos de 1978 e 1982, é o testemunho de Pepetela às perceptíveis mudanças da sociedade angolana após sua independência em 1975. A obra é construída como uma mistura de narrativas, situações e estilos que reconstrõem as andanças do cão pastor-alemão, Lucarpa, pela cidade de Luanda e entre seus habitantes. O "autor" da novela, outro personagem de Pepetela, reúne sob diversas formas narrativas testemunhos de pessoas que tiveram contato com o cão, protagonista e herói /ou anti-herói dessa estória. A estruturação tempo-espacial fragmentária da obra revela semelhanças com a novela picaresca e cada relato recolhido pelo "autor" tem um registro linguístico diferente ao anterior. Assim, um "ninho" textual através da polifonia é formado abordando, através da sátira social explícita, o modo de vida dos moradores de Luanda, os caluandas.
O livro é iniciado com um "Aviso ao Leitor", o qual recebe a data de 2002 e o localiza na cidade de "Calpe". Esses dois dados chamam a atenção do leitor acostumado a ler as obras de Pepetela, já que se trata de vinte anos posteriores aos fatos ali narrados e do próprio período de criação da novela (evidência ao olhar histórico que Pepetela costuma abordar em suas narrativas), e da localidade ser a mesma retratada em Muana Puó (1969), cuja significância aponta para a cidade do sonho, para a utopia do futuro.
A presença dos múltiplos narradores e de suas diversas funções sócio-políticas representa o microcosmo da cidade de Luanda em um determinado período de crise. Na altura do lançamento da novela em 1985, ela foi considerada fundamentalmente de crítica jornalística.
Em O cão e os caluandas Pepetela retoma seu questionamento aos projetos de "nação angolana" e de "unidade nacional", os quais já havia abordado em seu romance anterior Mayombe (1980). O novelista aproveita também para apresentar denúncias à burocracia, à corrupção, ao tribalismo já intrínsecos na estruturação desse jovem país recém-independente. Tais denúncias são perceptíveis em todos os depoimentos, sendo mais emblemáticos nos seguintes segmentos: "O primeiro Oficial", "O mal é da televisão", "Lição de economia política", "Regressados", "Que raiva!", "Entre judeus", "Luanda assim, nossa".

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Filme do mês

Depois de muito tempo sem postar nada, retorno minhas atenções a este blog. Após assistir alguns filmes que concorreram ao Oscar 2010, constatei que os norteamericanos não entendem nada de cinema. Como sempre a disputa foi de qual filme gastou mais e se vai confirmar todas as indicações.
Depois de assistir Avatar, Guerra ao terror, Preciosa e A fita branca(indicado a melhor filme estrangeiro); não tive dúvidas de que o melhor filme, teve apenas uma indicação e saiu de mãos abanando da dita festa do cinema. Porém venceu o Globo de Ouro (de melhor filme estrngeiro) e a Palma de Ouro, no festival de Cannes.
A fita branca (Dass Weisse Band), narra a história de crianças e adolescentes de um coral dirigido pelo professor primário de um pequeno vilarejo protestante no norte da Alemanha, em 1913, às vésperas da I Guerra Mundial e suas famílias. Estranhos acidentes começam a acontecer e tomam aos poucos o caráter de um ritual punitivo. O que se esconde por trás desses acontecimentos?