O livro é iniciado com um "Aviso ao Leitor", o qual recebe a data de 2002 e o localiza na cidade de "Calpe". Esses dois dados chamam a atenção do leitor acostumado a ler as obras de Pepetela, já que se trata de vinte anos posteriores aos fatos ali narrados e do próprio período de criação da novela (evidência ao olhar histórico que Pepetela costuma abordar em suas narrativas), e da localidade ser a mesma retratada em Muana Puó (1969), cuja significância aponta para a cidade do sonho, para a utopia do futuro.
A presença dos múltiplos narradores e de suas diversas funções sócio-políticas representa o microcosmo da cidade de Luanda em um determinado período de crise. Na altura do lançamento da novela em 1985, ela foi considerada fundamentalmente de crítica jornalística.
Em O cão e os caluandas Pepetela retoma seu questionamento aos projetos de "nação angolana" e de "unidade nacional", os quais já havia abordado em seu romance anterior Mayombe (1980). O novelista aproveita também para apresentar denúncias à burocracia, à corrupção, ao tribalismo já intrínsecos na estruturação desse jovem país recém-independente. Tais denúncias são perceptíveis em todos os depoimentos, sendo mais emblemáticos nos seguintes segmentos: "O primeiro Oficial", "O mal é da televisão", "Lição de economia política", "Regressados", "Que raiva!", "Entre judeus", "Luanda assim, nossa".